Refinando os processos de produção criativa — XVII

Marcelo Garcia
6 min readFeb 16, 2023

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Navegar é preciso, mas é importante chegar em algum lugar.

O dia 9 de fevereiro de 2023 foi a data que estabeleci para o lançamento do single de Eu não moro mais aqui, do meu atual projeto musical, DIBRE. Segundo meu planejamento inicial, eu deveria ter chegado ao dia marcado com a música totalmente produzida (gravada, mixada e masterizada), registrada em algum órgão oficial (como a União Brasileira de Compositores) e com o devido ISRC (o registro de identidade da música perante as plataformas musicais e o público geral). Os detalhes de lançamento incluíam a capa pronta, resumos para órgãos de divulgação (blogs, canais do You Tube e editores de playlists) e o contrato com uma agregadora para distribuir a música para as plataformas de streaming.

Parece muita coisa, e é mesmo. Exceto pelo contrato com a agregadora, que não fiz porque teria que definir a data exata do lançamento, consegui fazer todo o resto. Não bati a meta porque, há algum tempo, eu me convenci de que lançar a música sem um vídeo não teria o mesmo resultado. Aí comecei a fazer um clipe, com a vã, irreal e delirante ideia de que conseguiria aprender fazer uma animação de qualidade em pouquíssimo tempo.

Aprendi bastante coisa, mas superestimei minha estrutura e capacidade — como faço frequentemente — de dominar uma coisa tão complexa e produzir um clipe decente.

O clipe vai sair, provavelmente em março, que é quando vou poder fazer o lançamento e o projeto vai realmente terminar. Mas, como o clipe é a única coisa que falta, já posso sentir o gosto de ter concluído o trabalhoso processo de lançar o single de uma composição minha.

Gravei em estúdio minhas primeiras composições com 23 anos, para uma demo tape da banda Big Fish, na qual eu tocava baixo. Passei os anos seguintes aprendendo a tocar outros instrumentos, a transcrever o que criava em partituras e gravando com outras bandas e projetos, mas nunca fiz parte de uma entidade de classe ou registrei qualquer das minhas composições. Como eu não era um “músico profissional”, levava as coisas assim, a sério pero no mucho.

É por isso que seguir todas as etapas, da composição ao lançamento de uma música, passando pelos registros oficiais, representa um marco pra mim.

Eu sei, tem gente que faz isso todo mês, grande coisa e tal, mas o número de criativos que não consegue finalizar seus projetos é enorme — basta ver quantos artigos e vídeos existem na Internet sobre o assunto –, e ouso dizer que bate de goleada os que cruzam a linha de chegada.

Os motivos para não terminar um projeto criativo são vários. Incluem a falta de confiança que se traduz em procrastinação, expectativas irreais, falta de resiliência diante da ansiedade que surge naturalmente no processo, falta de tempo, apoio ou condições externas, uma tendência a correr atrás de objetos brilhantes, energia espalhada em múltiplos interesses, ou tudo isso junto e mais alguma outra desgraceira.

Já comentei sobre alguns aspectos desse trajeto esburacado que é o processo criativo por aqui — tenho ainda dois posts esboçados que tocam em outros pontos específicos — mas o principal para se manter firme até chegar ao final do projeto pode ser resumido em poucos princípios:

1. Definir o que é realmente importante e tirar do caminho todo o resto.

2. Pensar como um profissional, mesmo que não haja qualquer recompensa monetária envolvida. Isso envolve a decisão de ir até o fim, custe o que custar.

3. Estabelecer um prazo com uma data final para entregar o projeto, mesmo que tenha que alterar a data por ter feito estimativas pouco realistas de tempo.

4. Compreender como funcionam suas emoções em relação a suas criações. Lidar com a ansiedade não é a mesma coisa que estabelecer metas de produção, e procrastinação é um fenômeno mais ligado à auto-estima do que dificuldades externas.

5. Entrar em ação. Ninguém está totalmente preparado antes de iniciar um projeto e muitos obstáculos são transpostos durante a caminhada. Pensar demais antes de cada passo pode travar o processo, mas, como tudo na vida, às vezes uma paradinha para reavaliar o percurso é necessária.

Umas palavrinhas sobre entrar em ação:

Eu não moro mais aqui começou a ser composta há muitos anos e, como muitas coisas que criei, permaneceu adormecida em berço esplêndido até que resolvi mudar e dar especial atenção à conclusão dos meus projetos. A decisão de finalizá-la foi o ponto de partida que me tirou do comodismo, mas estar em movimento me levou a aprender muitas coisas e agregar recursos que me ajudaram a chegar onde queria.

Eu achava que deveria terminar a composição e o arranjo (faltavam alguns poucos detalhes) antes de começar a gravar. Com a decisão de não esperar nem mais um minuto, gravei os instrumentos de acordo com o arranjo que eu já tinha e a própria música, parcialmente gravada, me forneceu as soluções para o que faltava.

O mesmo aconteceu com a mixagem e a masterização, etapas que eu considerava misteriosas, dependentes de equipamentos caros e conhecimentos herméticos. Aprendi um bocado gravando e mixando as músicas do Kosmovoid, e mais um monte pensando apenas em Eu não moro mais aqui. Foram meses assistindo vídeos com tutoriais, testando equipamentos, métodos de gravação e mixagem e plugins.

Cometi muitos erros e tive que refazer várias coisas conforme aprendia. Hoje vejo o quanto, ao começar, eu estava longe do resultado final. A decisão de ir até o fim e permanecer em movimento foram cruciais para chegar até aqui.

Não quero dizer com tudo isso que movi montanhas ou realizei algo épico. Longe disso. Essa análise detalhada sobre o processo serve — espero — como um modesto mapa para outras pessoas que, como eu, possuem múltiplos interesses e dificuldade em concretizar seus devaneios criativos.

>>>>> Esta série de postagens surgiu para ordenar meus projetos. Eu tinha muita coisa em desenvolvimento e achei que concentrar o foco em apenas alguns deles ajudaria a finalizá-los, reduzindo pouco a pouco a fila. É também uma forma de organizar meus pensamentos sobre as coisas que vou aprendendo no meio do caminho. Pra não ficar só escrevendo minha lista de tarefas, procuro acrescentar algumas reflexões que podem ser úteis a outras pessoas, mas isso não quer dizer que sejam ensinamentos de quem sabe das coisas. O que escrevo aqui está mais para “veja o que descobri dando cabeçadas e aprenda com meus erros”.

Projetos atuais:

* Dibre — Projeto de música instrumental para minhas composições — Objetivo: Terminar a música Eu não moro mais aqui e lançá-la como single em plataformas digitais. Data final: 9 de fevereiro de 2023.

* Dibre — Projeto de música instrumental para minhas composições — Objetivo: Fazer uma animação em vídeo e lançá-lo no You Tube com o single Eu não moro mais aqui. Data final: 9 de fevereiro de 2023.

Projetos terminados:

* Lançamento e divulgação do fotolivro Sombra Única no Festival de Fotografia de Paranapiacaba.

* Gravação de um vídeo ao vivo com duas músicas da banda Kosmovoid.

* Terminar a primeira versão da novela de realismo mágico Zona de Fronteira.

*Aumentar o número de seguidores dos perfis do Aparelho Produtor de Imagens no Facebook e no Instagram.

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