Refinando os processos de produção criativa — XI

Marcelo Garcia
6 min readNov 11, 2022

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Dar a cara a tapa sem pendurar uma melancia no pescoço

Nos dias 5 e 6 de novembro aconteceu em a 9ª edição da Miolo(s), uma feira dedicada às artes gráficas e publicações independentes. Além de gravuras originais em diversos suportes, é possível encontrar na feira desde edições com tiragem baixíssima e confecção artesanal até livros e quadrinhos tradicionais, mas lançados por editoras de pequeno porte. Já tradicional na capital paulista, a Miolo(s) atrai um público numeroso que pode conferir como anda a produção cultural independente de boa parte do país, uma vez que os expositores vêm de várias partes do Brasil. Para os produtores, é uma oportunidade para divulgar e vender suas obras a uma grande quantidade de pessoas.

Sempre vou à Miolo(s) e, neste ano, vendo aquele monte de gente e suas expressões criativas, pensei em quanto material bacana tem por aí de que a gente nunca ouve falar. Um bom exemplo é o zine Chupa Manga #2, que comprei na feira. Em suas 50 páginas, disfarçado sob um manto de irreverência, encontrei longas reflexões sobre música e seus suportes, textos inteligentes, referências e pontes para outros músicos e produtores culturais. Acontece que o zine é de abril de 2016 e meio que estava fazendo volume na mesa que aprensentava outras publicações mais recentes. Ali, meio de canto, poderia ter passado despercebido como tantas outras fontes de informação que surgem e somem todo dia nesse mundão.

Eu sei. Estou falando de um zine. E um zine impresso. É claro que as chances de alguém tomar ciência deste tipo de publicação demodê são mínimas, considerando que hoje tudo o que é produzido vai de alguma forma para a internet. Mas a menção tem cabimento. Não é por que o conteúdo que você produz pode ser encontrado online que vai ser realmente encontrado, já que está no meio de um oceano de outras coisas semelhantes, todas buscando a mesma atenção.

E aí, como se destacar?

Respostas a esta pergunta não faltam. Gurus, coaches, influencers têm aos montes dando receitas, mas aqui vou ficar com apenas uma delas:

Seja tão bom que não possam ignorá-lo.

A frase, do ator estadunidense Steve Martin, é citada dia sim dia não por gente que escreve para inspirar os outros e, cá pra nós, ela é boa. Em vez de soltar uma fórmula mágica, ela é centrada na qualidade do trabalho.

Mas é também super genérica. Está cheio de gente muito boa no que faz que segue ignorada enquanto outros menos talentosos ganham dinheiro e fama. Como sempre, é preciso refinar a ideia.

Alex Mathers é um dos que adaptou o conselho de Steve Martin para os tempos de internet, dizendo que se deve criar tanto que não poderão ignorá-lo. Ele não é o único a enfatizar a quantidade e a frequência de conteúdo postado a fim de chamar atenção, e não acho que esteja errado, mas a impressão que tenho é de que o número de postagens e vídeos considerado padrão para conseguir engajamento é tão grande que é impossível fazer isso e manter a qualidade do trabalho. Mathers mesmo é um bom exemplo: eu deixei de segui-lo na plataforma Medium devido à grande quantidade de textos repetitivos que ele estava publicando.

O músico e produtor Jaques Figueras é outro que vincula a divulgação (de música, mas o conceito é o mesmo para qualquer área criativa) à produção de conteúdo, especialmente em vídeo. Em dado momento, porém, ele recomenda que o criador avalie os requisitos necessários para uma divulgação eficiente, e um deles é disposição. Muitas vezes dizemos não ter tempo para fazer alguma coisa, quando na verdade o que não temos é o saco.

Eu, que tenho cada vez menos tolerância para consumir conteúdo na internet (embora a quantidade de coisas boas seja enorme), tiro disso tudo que é preciso encontrar um equilíbrio entre o que quero fazer (que é exatamente NADA) e o que devo fazer para divulgar minha produção.

A solução que encontrei foi dar uma repaginada nos meus perfis das redes sociais, me organizar para publicar periodicamente e criar uma estratégia de anúncios pagos, tudo levando em conta meu alcance e minha disposição atuais.

Mas tem a coisa do vídeo, uma área à qual tenho a maior resistência. Nem cogitei fazer vídeos botando a cara na tela com aquela postura “fala, galera!”, mas algo tem que ser feito.

Eu havia planejado lançar Eu não moro mais aqui nas plataformas digitais no próximo dia 3 de dezembro. Enquanto escrevo, ela já está toda gravada, editada e parcialmente mixada, a capa está pronta e as providências para registrá-la já estão encaminhadas. Não teria problema em lançá-la na data planejada, mas me convenci (ou melhor, o Jaques Figueras me convenceu) de que teria que fazer um vídeo para acompanhar o lançamento.

Desde os tempos em que trabalhei como ilustrador, fujo de fazer animações como o diabo da cruz. Não porque não goste, mas porque é uma coisa tão interessante que eu sabia que consumiria muito do meu tempo, pois dá o maior trabalho.

No entanto, há alguns meses, eu peguei a ilustração que fiz para a capa de Retrogram, do Kosmovoid, e fiz uma pequena animação. Como tinha feito tudo em vetor e camadas, bastou alterar algumas partes para criar os frames que formariam as cenas. Não foi difícil, mas foi a maior trabalheira. Foram muitos dias para aprender os macetes dos programas de edição e produzir pouco mais de um minuto de animação.

Esta pequena sequência serviu para saber que é possível fazer uma animação simples, o que já é meio caminho andado para colocar as mãos na massa.

Ainda fiel aos princípíos do essencialismo, ponderei bastante sobre incluir a confecção de um vídeo na minha rotina de trabalho, mas apesar do comprometimento de tempo e energia que isso vai exigir, acho que é importante fazer uma animação para lançar com o single de Eu não moro mais aqui. O roteiro já está pronto e o planejamento já foi feito. Como não vou conseguir terminar até 3 de dezembro, reprogramei a data de lançamento, com o vídeo terminado, para 9 de fevereiro de 2023.

Esta série de postagens surgiu para organizar meus projetos. Eu tenho muita coisa em desenvolvimento e achei que concentrar o foco em apenas alguns deles ajudaria a finalizá-los, reduzindo pouco a pouco a fila. Pra não ficar só no esquema “lista de tarefas”, acrescento algumas reflexões que podem ser úteis a outras pessoas.

Projetos atuais:

Dibre — Projeto de música instrumental para minhas composições — Objetivo: Terminar a música Eu não moro mais aqui e lançá-la como single em plataformas digitais. Data final: 9 de fevereiro de 2023.

Dibre — Projeto de música instrumental para minhas composições — Objetivo: Fazer uma animação em vídeo e lançá-lo no You Tube com o single Eu não moro mais aqui. Data final: 9 de fevereiro de 2023.

Projetos terminados:

Sombra Única — Fotolivro publicado em 2021 — Lançamento no Festival de Fotografia de Paranapiacaba e divulgação. Data: 3 de setembro.

Kosmovoid — Quarteto de música instrumental de composição coletiva em que toco baixo — Gravação de um vídeo ao vivo com duas músicas. Data final: 25 de setembro.

Zona de Fronteira — Novela de realismo mágico que estou escrevendo — Terminar a primeira versão. Data final: 30 de setembro.

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